Com a Raposa do Pequeno do Príncipe, aprendemos que “o essencial é invisível para os olhos”. Por isso, “só se vê bem com o coração”. Vale dizer, as realidades mais preciosas da vida são e continuam sendo sempre um mistério. O exemplo mais próximo é o próprio ser humano, com seu itinerário de nascimento, com sua identidade pessoal, com as várias etapas de sua vida e, finalmente, com sua morte.
Neste ano, a Arquidiocese de São Luís, em seu Projeto Pastoral 2013-2016, nos propõe o tema da Igreja. Como inspiração, dois documentos devem nos acompanhar ao longo desse ano – a constituição dogmática “Lumen Gentium” (Luz dos Povos) do Concílio Ecumênico Vaticano II e o documento da CNBB “Comunidade Comunidades: uma nova paróquia” que vai ter sua versão final na próxima Assembleia Geral da CNBB.
Quando falamos de Igreja, o que pensamos em primeiro lugar? Pensamos nos vários templos nos quais se reúne a comunidade cristã? Pensamos na identidade jurídico-institucional da Igreja, com suas circunscrições, seus ministros, seus conselhos? Claro que tudo isso é importante, porém a Igreja é mais do que isso.
A Igreja é um mistério que se situa, em primeiro lugar, no horizonte do mistério de Deus uno e trino. A essa afirmação temos que acrescentar logo uma segunda, a saber: a Igreja está no mundo, isto é, no tempo e no espaço. Através dela, o mistério de Deus se realiza na história do mundo.
Costuma-se dizer que no Concílio Vaticano II ocorreu uma dupla virada eclesiológica. Em primeiro lugar, o Concílio nos propõe uma Igreja não centrada em si mesma, mas uma Igreja servidora da humanidade. O papa Francisco vem ao encontro dessa afirmação conciliar, quando insiste que devemos abandonar uma postura autorreferencial. A Igreja não existe para si mesma. Temos que ser uma “Igreja em saída”, como ele se expressa na “Evangelii Gaudium”.
A segunda virada eclesiológica do Concílio se encontra na expressão “povo de Deus”, isto é, a Igreja passa a se autocompreender não, em primeiro lugar, a partir da hierarquia, mas a partir do povo de Deus. Nessa perspectiva, todos os membros da Igreja são participantes e co-responsáveis pela vida e pela missão da Igreja.
* Dom José Belisário da Silva
Postar um comentário