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O Tempo da Quaresma

Nós professamos a fé em Jesus de Nazaré, o Cristo Crucificado-Ressuscitado, que veio “não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Cremos e anunciamos firmemente que “Cristo morreu por nossos pecados segundo as escrituras, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras…” (1 Cor 15,3ss). Essa verdade dá sentido ao ser cristão. Por isso, organizamos nossa vida e nosso calendário a partir da festa da Páscoa.

Para bem celebrarmos o amor de Deus que toma a iniciativa de vir ao encontro do ser humano para oferecer-lhe a salvação em Cristo, nós cristãos, nos reunimos a cada domingo (Dia do Senhor) para fazer Memória da Páscoa de Cristo.

Em virtude da magnitude do tempo pascal e para que essa festa seja celebrada na pureza, sinceridade e verdade que tão excelente solenidade exige (Cf. 1Cor 5,8), o tempo quaresmal é um momento oportuno de graça, em que a Igreja reflete, revive e atualiza etapas marcantes da história da salvação.

Nesse tempo em que a Igreja reza, pede perdão, eleva preces e súplicas e recorre ao amor compassivo de Deus, ela revive e traz consigo toda a simbologia bíblica que o número quarenta significa. Por essa razão, a quaresma é um espaço privilegiado que lembra com precisão a caminhada do povo de Deus, que liberto da escravidão atravessa o deserto da vida e, marcha rumo à terra prometida, em direção à pátria definitiva. Nesse caminho tem tentações, aflições, pecado, arrependimento e esperança de salvação. Pois, acima de tudo, a graça de Deus nos acompanha sempre para que não caiamos no desespero e não esmoreçamos durante a peregrinação.

Nesse sentido, a quaresma é aquele mesmo caminho que o Filho Pródigo percorre para, finalmente, voltar à casa do Pai e ganhar o seu aconchegante e caloroso abraço misericordioso (Cf. Lc 15,11-32).

Quaresma é tempo de conversão que significa mudança radical de mentalidade e de atitude. Não é mudança de religião. Todos nós, que somos feitos do mesmo barro, carecemos do perdão de Deus e precisamos de conversão. Sempre é possível melhorar. E, nesse mundo que persistentemente apresenta uma face da realidade que desrespeita ou menospreza os direitos humanos é justo e salutar que abandonemos o ódio, a indiferença, o egoísmo, a vingança e a disputa pelo poder desvinculada do interesse pelo serviço e pela promoção da vida para abraçarmos o amor, a solidariedade, a fraternidade, a compaixão, o perdão… a luta por justiça e a promoção da paz.

Quaresma é tempo de jejum. Por isso, nesse mundo dinheiro-cêntrico nada melhor do que os cristãos manifestarem que não é o dinheiro que tem a última palavra e que é possível abrir mão, não dos seus direitos, mas de privilégios e excessos que faltam aos irmãos prediletos de Jesus. É tempo de mostrar que é possível partilhar em vez de acumular. É tempo, sobretudo, de lembrar o profeta Isaías que com coragem proclama o jejum e a penitência que agrada ao Senhor é romper as correntes da iniquidade, pôr em liberdade os oprimidos, repartir o pão com o faminto, ajudar os pobres, os excluídos… (Is 58).

Quaresma é tempo de oração. É um momento favorável para se abrir o coração, os ouvidos e a mente para que Deus fale de maneira audível em nossa vida, para que descubramos a sua vontade e façamos o seu querer, para que amemos como Cristo nos mandou amar. Pois, “a melhor oração é amar”.

Quaresma é tempo de caridade. Jesus ensinou o amor aos inimigos. Ele mostrou que o amor e o perdão não têm limites. E, no momento mais dramático de sua vida, quanto mais era odiado, mais ele amava, mais ele oferecia. Infelizmente a nossa sociedade padece de uma onda de ódio e intolerância. Cresce um ódio sistemático que é difundido até nos meios de comunicação. Esse é um bom momento para olharmos para as periferias existenciais da vida e percebermos que temos uma população carcerária muito grande para distribuirmos mundo a fora ódio e desejo de prisão, cadeia, punição, castigo, morte… muitas vezes contrariando os nossos próprios direitos, que são os direitos humanos. É momento de mostrarmos a outra face, que sabemos amar, pois foi o mestre Jesus quem nos ensinou.


Na quaresma, a Igreja do Brasil realiza a Campanha da Fraternidade. Há mais de cinco décadas, ela anuncia a importância de não se separar conversão e serviço à sociedade e ao planeta. A cada ano, um tema é destacado. Desta forma, a Campanha da Fraternidade já refletiu sobre realidades muito próximas dos brasileiros: família, políticas públicas, saúde, trabalho, educação, moradia e violência, entre outros enfoques.

Em 2020, a CF convida, a olhar de modo mais atento e detalhado para a vida. Com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), busca conscientizar, à luz da palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, casa comum.

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