A família, como todas as realidades humanas, existe em estado de construção. Elemento fundamental nesta construção cotidiana, segundo nosso Papa Francisco, é “um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar.” (AL 325). Desejo fazer ressoar algumas características do amor familiar, apresentado no recente documento do Papa “sobre o amor na família”. O capítulo quarto da referida Exortação Apostólica (AL 89-119) traduz para a realidade familiar, na sua concretude, o “hino à caridade”, de São Paulo (cf. 1 Cor 13,4-7).
O amor familiar é paciente. Os relacionamentos familiares não podem ser impulsivos e levados à agressividade. Sem cultivarmos a paciência, conscientemente escolhida, sempre acharemos desculpas para responder com ira e “a família tornar-se-á um campo de batalha” (AL 92).
O amor é benfazejo, deseja o bem do outro, do cônjuge, dos filhos, dos pais. Não é apenas um sentimento passivo, mas tem o sentido de “fazer o bem”. Assim, continua o hino, a inveja é contrária ao amor. A felicidade de um membro da família traz alegria a todos. Sempre o amor cria espaço para a realização do outro. Daí que, também, não condiz com a arrogância e o orgulho. Quem ama não deseja ser o centro, fala pouco de si. É triste quando, no seio familiar, existem atitudes arrogantes de alguém, que por falta de humildade, despreza ou quer dominar os outros. A lógica da competição e do domínio, que tanto mal faz à sociedade, não pode se reproduzir na família. Ouçamos o que diz São Paulo: “Revesti-vos de humildade no relacionamento mútuo.” (1 Pd 5,5).
A amabilidade faz a família ser um lar, um lugar prazeroso de viver. Ela se expressa de muitas maneiras: no olhar, nos gestos, no silêncio e nas palavras. A amabilidade procura não ferir o outro membro da família. Aprendendo a calar e ouvir, mais do que falar, nos torna tolerantes e respeitosos diante das diferenças. “A pessoa que ama é capaz de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam. […] Não são palavras que humilham, angustiam, irritam e desprezam.” (AL 100). Este é o amor, que “não procura o próprio interesse” (v.5), supera a justiça e transborda gratuitamente “sem esperar coisa alguma em troca” (Lc 6,35).
Talvez, um dos maiores desafios dos relacionamentos familiares é a capacidade de perdoar. O amor “não leva em conta o mal sofrido” (v.5). A indignação é saudável, pois impulsiona a lutar contra a injustiça, mas alimentar agressividade interior torna-se fonte de doenças e isolamento. Por isso, diz o Papa, “nunca permitais que o dia em família termine sem fazer as pazes.” (AL 104). O remédio é o perdão, que procura compreender a fraqueza alheia, sabendo que para tal é necessário uma boa dose de sacrifício. Assim, o amor “tudo desculpa” (v. 7). Ao reconhecer a própria imperfeição, consegue-se compreender as fraquezas dos outros. Assim, sabe guardar silêncio perante os limites e mostra, em sua fala, preferencialmente as virtudes ao invés das fraquezas do outro.
Ainda, o amor é fonte de confiança nos seio familiar, pois “tudo crê” (v.7). Deixa livre e não quer possuir e dominar. Esta atitude torna possível a sinceridade e transparência, tão importantes, por exemplo, na educação dos filhos.
O amor “tudo suporta” (v.7). Não se trata de resignação, mas manter-se firme em meio a situações não favoráveis. Manter os valores. Nunca desistir. Cremos que a força do amor pode vencer qualquer mal que ameaça a família.
Enfim, o amor “tudo espera” (v.7). A esperança sempre se mantém viva. É sempre possível crescer e melhorar. O amor é, então, a base da convivência familiar, a ser cultivado todos os dias.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
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